Já vi muitos
escritores, após terem seus originais recusados por grandes editoras e/ou
gastarem pequenas fortunas com editoras sob demanda, sem obter resultado algum,
decidirem abrir sua própria editora.
Se o objetivo é economizar, você está fazendo uma grande
besteira. Abrir sua própria editora irá gerar um custo enorme, que você demorará
no mínimo dois anos para recuperar. Para ter lucro então – se é que terá –
demorará algo em torno de cinco anos.
Honestamente,
ainda não entendo porque as pessoas não conseguem enxergar o mercado literário
como ele realmente é: um mercado. As pessoas entram nele cheias de sonhos e
expectativas, mas sem planejamento algum. Abrir uma editora é como abrir
qualquer outro tipo de negócio, é necessário conhecimento, planejamento,
investimento e muita paciência e persistência. Não é algo que possa ser levado
como um “bico”. Ela precisa de dedicação integral e exclusiva. Ora, você não vê
alguém abrir uma padaria e continuar em seu antigo emprego, aparecendo na
padaria apenas quando dá, vê? Muito menos, vê alguém abrir um restaurante, sem
nem saber a diferença entre alhos e bugalhos. Tampouco, vê alguém abrir um
mercado onde uma única pessoa vai atender o açougue, o caixa, varrer o chão e
repor as prateleiras. Agora me diz por que cargas d’água, as pessoas acham que
dá pra fazer isso com uma editora?
Ao
longo de minha não tão extensa carreira literária, já vi muitas editoras
surgirem e desaparecerem com uma rapidez espantosa. Ao contrário do que muitos
pensam, a maioria não afunda por ser “picareta”, mas sim, por má administração.
Hoje
em dia, qualquer um acha que pode ser escritor, assim como qualquer um acha que
pode ser editor. Bom, é claro que qualquer um pode fazer isso, afinal, é um
país livre, mas quanto a se obter êxito nessa empreitada, bem, aí já é outra
história.
Vou
falar de um caso que acompanhei de perto para exemplificar o que estou falando:
Tudo
começou quando um aspirante a escritor teve seu livro recusado pelas grandes
editoras e ao receber a proposta exorbitante de uma editora sob demanda,
decidiu que com aquele dinheiro, ele poderia abrir sua própria editora. Assim,
do nada. Ele não fazia a menor ideia de como funcionava uma editora, nem do que
ela fazia realmente, mas achou que não devia ser tão difícil assim e que aquela
que ele consultou só queria era explorar os autores mesmo.
Logo,
ele encontrou mais autores na mesma situação e decidiu que iria ajudá-los. Unidos,
eles formaram uma espécie de cooperativa: um autor diagramava, outro fazia as
capas, outro revisava, e assim, eles cortavam muitos custos. Quanto à gráfica,
dessa, não dava pra fugir, mas eles encontraram ao menos, uma que imprimia em
pequenas tiragens. E assim, felizes, logo todos eles tinham seus livros em
mãos, impressos e prontos para ser comercializados. Porém, aí veio a dura
realidade: Onde vender esses livros?
Aí
você me diz: Nas livrarias, ora.
Mas
há um problema que nosso incauto editor não previa: a esmagadora maioria das
livrarias atuais, pertence a grandes redes, onde é praticamente impossível uma
editora nova, que conta apenas com autores desconhecidos, entrar. Algumas dessas
redes, só aceitam editoras que possuam mais de cinquenta títulos publicados,
com tiragens mínimas de dois mil exemplares. Além disso, mesmo que ele conseguisse
colocar seus mirrados títulos à venda nesses lugares, eles ficariam escondidos
num canto da loja, pois os locais de destaque custam muito, muito dinheiro.
Restaram
a ele, as pequenas livrarias e a internet. Porém, as pequenas livrarias, não
estão resistindo a essa massificação do segmento e estão fechando as portas,
deixando o tal editor cada dia mais órfão. Na internet, a venda é quase nula, e
morosa, visto que ele também não conseguiu entrar nos grandes sites, pelos mesmos
motivos pelos quais não entrou nas grandes livrarias e as vendas são feitas
apenas em site próprio da pequena e desconhecida editora.
Outro
problema foi a divulgação, que também custa muito dinheiro. Revistas, jornais,
sites, emissoras de televisão e demais veículos de comunicação de relevância nacional,
cobram para fazer qualquer tipo de artigo que poderia ajudar os livros a “decolar”,
alguns, chegam a cobrar até para incluir o livro na lista de mais vendidos. Sem
condições de arcar com isso, restaram as redes sociais da internet para
divulgar, mas esse tipo de mídia tem um alcance limitado, geralmente chegando
apenas aos amigos dos envolvidos. Até mesmo a divulgação em blogs ficou
comprometida porque a Editora não tinha condições de doar exemplares para que
os blogueiros fizessem resenhas e pudessem assim, tornar o trabalho dos autores
mais conhecido.
Some-se
a tudo isso, o preço pouco competitivo dos livros, que por serem feitos em
pequenas tiragens, custavam pelo menos cinco vezes mais que os livros feitos
pelas grandes editoras, que compram papel imune de impostos diretamente dos
produtores e pagam um valor infinitamente inferior às gráficas por serviços,
por vezes, muito superior.
Resumindo:
a editora possuía livros caros, de autores desconhecidos, sem divulgação e sem
pontos de venda. O pouco dinheiro que entrava, era insuficiente para sequer
cobrir os gastos, por mais que se tentasse diminuí-los.
Contrariando
toda a lógica, o editor decidiu acolher todos os autores que começaram a
procurá-lo. Muitos, de talento duvidoso. Mas ele não se importava com nada
disso. Queria apenas mostrar às grandes editoras, que ele não precisava delas.
E assim começou a sua derrocada.
Possuindo
apenas o Ensino Médio, ele escrevia sofrivelmente, quanto mais selecionar e/ou
editar decentemente um livro! Isso começou a render à Editora má fama e
reputação. E por mais que todos tentassem alertá-lo, ele não dava ouvidos à
ninguém. Terceirizou alguns serviços para profissionais mais preparados, mas
nem isso salvava a péssima qualidade do que ele publicava.
Sua
última cartada foi participar de uma feira literária à qual os autores
desejavam muito comparecer. Os autores ratearam entre eles o valor a ser pago
pelo estande e muitos deles custearam a impressão de seus livros que seriam
vendidos lá. A feira foi um sucesso e quase todos os títulos se esgotaram.
Porém, para surpresa geral, logo após, a Editora decretou falência. O lucro da
Feira mal deu para pagar os direitos autorais dos escritores e devolver o que
eles haviam investido em livros para o evento. Ficou ainda a enorme conta da
gráfica a pagar.
Muitos
acusaram o editor de ter desviado o dinheiro, de ter agido de má fé. Mas não
foi nada disso. O que houve foi apenas má administração, falta de planejamento,
falta de experiência.
Esse
é apenas um dos exemplos, mas todos os dias, pequenas editoras fecham, deixando
autores e credores em desespero e editores endividados.
Por
isso, se você pensa em abrir sua própria editora, pense bem. A menos que você
seja um milionário excêntrico, com muito dinheiro para investir nisso e contratar
os melhores profissionais do ramo, as chances de você obter sucesso, são
praticamente nulas. E eu não estou sendo pessimista, creia, estou sendo
realista.