Prólogo
A noite estava perfeita para a
realização do ritual. A Lua cheia iluminava totalmente o campo aberto onde a
bruxa se encontrava, tornando a noite clara como o dia. A Lua azul, fenômeno
que só ocorre a cada dois anos, tornava aquela noite ainda mais poderosa.
A jovem feiticeira, iniciada na
magia negra, vestida apenas com uma capa preta de cetim, formava no chão um
imenso círculo com velas negras e púrpuras intercaladas, quando foi
interrompida pela mãe perplexa:
- Minha filha, o que você está
fazendo? O que é isso?
Levantando-se rapidamente, cortou
a garganta da mulher com um único e preciso golpe de punhal, não permitindo que
ela emitisse mais que um grito abafado antes de tombar no chão de terra. Seus
olhos expressavam incredulidade ao fitar a expressão satisfeita no rosto da
única e amada filha a qual ela dera à luz. A garota, entretanto, limitou-se a
pegar rapidamente um cálice de prata que estava próximo a ela e enchê-lo com o
sangue que jorrava do ferimento aberto daquela que a trouxe ao mundo. Ainda
estava entretida nessa macabra tarefa quando seu pai, atraído pelo barulho saiu
da humilde casinha onde eles viviam para ver o que estava acontecendo.
- Oh, meu Deus! – exclamou ele,
ao deparar-se com a mórbida cena. – O que houve?
A garota partiu pra cima do pai,
mas este se defendeu, segurando seus braços, mantendo a mão da menina que
segurava o punhal muito próximo ao seu pescoço.
- O que você está fazendo? Você
matou sua própria mãe! – gritou ele, encarando sua filha, tomado de assombro e
terror.
- Detineo! – exclamou a garota.
O homem mal teve tempo de
perceber que um raio de energia de aspecto muito escuro saiu das mãos de sua
filha e percorrendo o punhal, atingiu seu corpo, imobilizando-o. Sem demonstrar
emoção alguma, a garota cortou a garganta do pai tal e qual fizera com a mãe e
terminou de encher o cálice de prata que tinha nas mãos antes de ser
interrompida por seu genitor.
Sem deter-se para analisar o que acabara de fazer, voltou a formar o círculo com as
velas e as acendeu, posicionando-se em seu centro, acendeu um incenso de
Almíscar e o sacudiu, traçando formas irregulares com as mãos, preenchendo o ar
a seu redor com seu cheiro adocicado. Pôs-se então a pronunciar os seguintes
dizeres:
- É minha vontade invocar Lilith,
de modo que através de seu espírito
experimente o poder do sexo e morte e obtenha sua palavra de poder.
Eu sou a filha da força e violo cada hora de minha juventude. Eu sou
entendimento, e a ciência habita em mim; os celestes me oprimem. Eles cobiçam e
desejam-me com infinito apetite; nenhum dos que são terrenos tem me abraçado
porque eu estou sombreada com o circulo das estrelas, e coberta com as nuvens
da manhã. Meus pés são mais rápidos que os ventos, e minhas mãos são mais doces
que o orvalho da manhã. Minhas vestes são do principio e meu lugar de descanso
está em mim mesma. O leão não sabe onde eu ando, nem as bestas do campo
compreende-me. Eu sou deflorada, mas virgem; eu santifico e não sou
santificada. Feliz é aquele que me abraça: para a noite sou doce, e de dia
prazer total. Minha companhia é uma harmonia de muitos símbolos, e meus lábios
mais doces do que a perpétua saúde. Sou uma prostituta para alguns que me
violam, e uma virgem para aqueles que não me conhecem. Purguem suas estradas
filhos dos homens, e lavem suas casas limpas; façam-se santos, e ponham-se na
retidão. Expulsem suas velhas prostitutas, e queimem suas roupas e então eu
irei, trarei crianças diante de ti e eles serão os filhos do conforto no tempo
do porvir.
Gesticulou em direção ao corpo de
sua mãe e ordenou: - Accedo.
O corpo sem vida da jovem senhora
flutuou no ar e principiou a se debater.
- Negras são suas asas, preto
sobre o preto! Seus lábios são vermelhos como o sangue, beijando todo o
universo! Ela é Lilith, que elevou as hordas do abismo, e levou homens à ruína!
Ela é irresistível realizadora de toda a luxúria, profeta do desejo. A primeira
de todas as mulheres foi ela - Lilith, Eva não foi a primeira! Suas mãos trazem
a revolução da vontade e a verdadeira liberdade da mente! Ela é
ki-si-kil-lil-la-ke, rainha do circulo mágico! Olhe dentro dela a luxúria e
desespero! – continuou a dizer, elevando a voz e o cálice cheio de sangue acima
de sua cabeça, do qual ela bebeu até a última gota, antes de prostrar-se em
terra, evocando: - Lilith! Lilith! Lilith!
O corpo da mulher morta foi
envolvido por uma energia esverdeada, que parecia queimar-lhe a pele, dando-lhe
novas feições, moldando aquele pedaço de carne sem vida. O corpo gordo e
flácido da mãe da menina deu lugar a um corpo curvilíneo, com longos cabelos
negros em lugar dos ralos cabelos grisalhos e o rosto cansaço e marcado pelas
rugas e pelo cansaço de uma vida sofrida, adquiriu traços delicados e sensuais.
Quando a transformação teve fim, a mulher pousou suavemente no chão e já não
era mais a pobre trabalhadora que habitava aquele corpo, mas sim a mãe das
bruxas, Lilith.
- É chegada a hora. Ester está
pronta e o anjo perdido. – disse a jovem feiticeira que invocara a rainha dos
demônios.
Lilith abriu um sorriso
satisfeito, encarando a garota em silêncio.
só tenho a dizer.............OMG!!!
ResponderExcluircadê o livro?????
Elaine Estou lendo Abismo nesse momento, não sei se lembra de mim, mas sou aquele rapaz recepcionista do hospital de Ribeirão Branco que conversou com você um dia a respeito de seu primeiro livro Limiar, meus parabéns novamente. Abismo é show de bola. Emoções em cima de emoções. Mal me aguento pra ler o terceiro livro. Espero que você crie outras histórias pra gente. Um abraço e Deus te abençoe você merece muito. #Limiar #Abismo.
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